quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Estadão apóia Serra

Estadão - Editorial: O mal a evitar

25 de setembro de 2010 | 17h 02

A acusação do presidente da República de que a Imprensa "se comporta como um partido político" é obviamente extensiva a este jornal. Lula, que tem o mau hábito de perder a compostura quando é contrariado, tem também todo o direito de não estar gostando da cobertura que o Estado, como quase todos os órgãos de imprensa, tem dado à escandalosa deterioração moral do governo que preside. E muito menos lhe serão agradáveis as opiniões sobre esse assunto diariamente manifestadas nesta página editorial. Mas ele está enganado. Há uma enorme diferença entre "se comportar como um partido político" e tomar partido numa disputa eleitoral em que estão em jogo valores essenciais ao aprimoramento se não à própria sobrevivência da democracia neste país.



Com todo o peso da respo nsabilidade à qual nunca se subtraiu em 135 anos de lutas, o Estado apoia a candidatura de José Serra à Presidência da República, e não apenas pelos méritos do candidato, por seu currículo exemplar de homem público e pelo que ele pode representar para a recondução do País ao desenvolvimento econômico e social pautado por valores éticos. O apoio deve-se também à convicção de que o candidato Serra é o que tem melhor possibilidade de evitar um grande mal para o País.



Efetivamente, não bastasse o embuste do "nunca antes", agora o dono do PT passou a investir pesado na empulhação de que a Imprensa denuncia a corrupção que degrada seu governo por motivos partidários. O presidente Lula tem, como se vê, outro mau hábito: julgar os outros por si. Quem age em função de interesse partidário é quem se transformou de presidente de todos os brasileiros em chefe de uma facção que tanto mais sectária se torna quanto mais se apaixona pelo poder. É quem é o responsável pela invenção de uma candidata para representá-lo no pleito presidencial e, se eleita, segurar o lugar do chefão e garantir o bem-estar da companheirada. É sobre essa perspectiva tão grave e ameaçadora que os eleitores precisam refletir. O que estará em jogo, no dia 3 de outubro, não é apenas a continuidade de um projeto de crescimento econômico com a distribuição de dividendos sociais. Isso todos os candidatos prometem e têm condições de fazer. O que o eleitor decidirá de mais importante é se deixará a máquina do Estado nas mãos de quem trata o governo e o seu partido como se fossem uma coisa só, submetendo o interesse coletivo aos interesses de sua facção.


Não precisava ser assim. Luiz Inácio Lula da Silva está chegando ao final de seus dois mandatos com níveis de popularidade sem precedentes, alavancados por realizações das quais ele e todos os brasileiros podem se orgul har, tanto no prosseguimento e aceleração da ingente tarefa - iniciada nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique - de promover o desenvolvimento econômico quanto na ampliação dos programas que têm permitido a incorporação de milhões de brasileiros a condições materiais de vida minimamente compatíveis com as exigências da dignidade humana. Sob esses aspectos o Brasil evoluiu e é hoje, sem sombra de dúvida, um país melhor. Mas essa é uma obra incompleta. Pior, uma construção que se desenvolveu paralelamente a tentativas quase sempre bem-sucedidas de desconstrução de um edifício institucional democrático historicamente frágil no Brasil, mas indispensável para a consolidação, em qualquer parte, de qualquer processo de desenvolvimento de que o homem seja sujeito e não mero objeto.


Se a política é a arte de aliar meios a fins, Lula e seu entorno primam pela escolha dos piores meios para atingir seu fim precípuo: manter-se no poder. Para isso vale tudo: alianças espúrias, corrupção dos agentes políticos, tráfico de influência, mistificação e, inclusive, o solapamento das instituições sobre as quais repousa a democracia - a começar pelo Congresso. E o que dizer da postura nada edificante de um chefe de Estado que despreza a liturgia que sua investidura exige e se entrega descontroladamente ao desmando e à autoglorificação? Este é o "cara". Esta é a mentalidade que hipnotiza os brasileiros. Este é o grande mau exemplo que permite a qualquer um se perguntar: "Se ele pode ignorar as instituições e atropelar as leis, por que não eu?" Este é o mal a evitar.


Texto publicado na seção "Notas e Informações" da edição de 26/09/2010

Onda vermelha, onda verde e outras bobagens...

Escrevo nesta quinta feira, a pouco mais de três dias para a eleição. Diante da incompetência do seu candidato com o voto, já que patina semanas nos 25 %, a mídia resolveu inflar a onda verde com Marina.
Recebi diversos telefonemas de pessoas influenciadas por este tipo de história ficcional, preocupadas com a subida de dois pontos da Marina.
Ora, qualquer pesquisa, qualquer avaliação, mostra Dilma em primeiro lugar , seja por região, estado, renda familiar, mais pobre, classe média. Tem "especialista" dizendo que poderá ter um segundo turno, devido a margem de erro, blá,blá, blá. A tal margem de erro é o seguinte, se errarem para menos na avaliação de Marina + Serra e para mais na de Dilma, poderíamos ter um segundo turno. E margem de erro do Emayel não entra na conta ?
Se comentassem futebol diriam o seguinte: faltam dez rodadas, o Flamengo vencendo estes dez jogos, fará 30 pontos, o que lhe permitirá disputar o bi-campeonato.
Veja matéria postada a baixo, com o mapa Dilma x Serra, que desmente todas as avaliações pró Serra e pró Dilma.
Por outro lado vejo um grande benefício nesta história, pois sendo uma eleição para seis cargos, é natural com a vantagem de dez milhões de votos da Dilma, que cada um militante petista, dedicasse mais tempo ao seu candidato a deputado ou senador, pois em cima já estaria resolvido. Mas escaldado com 2006, com a falta de 1,39% que propiciou o segundo turno, não encontrei um único petista que não recomendasse cautela e muito empenho na Dilma até as 17 h de domingo.
Desta forma, militantes dos partidos da coligação, sindicalistas, religiosos, integrantes de movimentos populares como sem terra e sem teto, membros de cooperativas, trabalhadores rurais da agricultura familiar, integrantes de pastorais, aposentados, beneficiados com 1º emprego, jovens do pró uni, beneficiados do bolsa família, recentes compradores da casa própria, estarão brigando por Dilma até domingo. Em sua maioria não se informam pela Globo, Estadão ou FSP, mas sim pela sua realidade de vida que mudou nestes quase oito anos.
Com o melhor cabo eleitoral da história do país, oriunda de um governo com taxas superiores a 80% de aprovação, tendo a melhor proposta e a melhor assimilação pelo eleitorado, com a melhor campanha e o melhor programa de TV/ Rádio, apoiada pela nata da militância brasileira, Dilma que tem um desempenho magnífico nos debates nas ruas, surprendendo o mais cético petista, vai num grande somátório, promover a maior vitória de uma força política na hitória do país, superando Getúlio em 49, JK em 54, pois esta virá com uma bancada de senadores, deputados federais e estaduais, governadores inédita no Brasil.
O que confirma todos os números da pesquisa, é o desempenho dos caciques em todas as regiões. Virgílios, Marco Maciel, Cesar Maia, Beto Richa, Demóstenes, Jarbas Vasconcelos entre outros estão vendo a foice da degola bater a sua porta. Esta sim uma onda, a onda do voto popular e consciente, que vai mandar para casa os antigos poderosos .
Em 2002 e 2006 a ESPERANÇA VENCEU O MEDO, EM 2010 , O AMOR VENCERÁ O ÓDIO.
DILMA PRESIDENTE !

Mapa do Ibope mostra refluxo de “onda vermelha” apenas em áreas ricas do Sul e Sudeste


José Roberto de Toledo e Daniel Bramatti

O Ibope mostra que o refluxo da “onda vermelha” ocorreu apenas em áreas mais ricas do Sudeste e Sul do país: um corredor que começa em Porto Alegre, segue pelas serras gaúcha e catarinense, corta o Paraná de norte a sul, entra pelo interior paulista, passa pelos bairros ricos da capital, e chega ao vale do Paraíba.

No mapa nacional de intenção de voto do Ibope, Dilma Rousseff (PT) ganha, agora, em 82% das 255 áreas. Na consolidação anterior, a petista vencia em 86%. Aumentaram o número de empates técnicos (de 15 para 22) e as áreas onde José Serra (PSDB) é o mais votado: de 20 para 23.

O Ibope reúne nessas áreas municípios próximos ou, no caso das metrópoles, faz divisões internas, juntando bairros com perfil socioeconômico semelhante. O mapa é uma consolidação de 27 pesquisas estaduais do instituto feitas ao longo de setembro, principalmente nos últimos 10 dias.

Em comparação ao mapa anterior, entraram nesta edição novas sondagens feitas em Estados de várias regiões do país, como São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia, Distrito Federal, entre outros.

A porção pintada de vermelho do mapa representa as áreas onde a intenção de voto em Dilma é no mínimo 5 pontos porcentuais maior do que a de Serra. Nas áreas azuis, ocorre o oposto. As partes cinzas indicam empate técnico entre os dois candidatos.


Tão importante quanto o número de áreas em que cada candidato vence, é o tamanho da vantagem. Sob esse aspecto, a preferência pela petista manteve praticamente o mesmo nível de intensidade nos dois levantamentos.

Dilma tem mais de 50 pontos porcentuais de vantagem sobre Serra em 25% das áreas (todas elas localizadas no Nordeste ou no Amazonas). No mapa anterior, esse porcentual chegava a 27%. Entre as regiões dessa faixa estão áreas de Salvador (BA), Manaus (AM) e Sobral (CE), por exemplo.

As maiores vantagens proporcionais de Dilma estão no sertão e agreste pernambucanos, na regiões de Salgueiro e Garanhuns (terra de Lula), e no interior do Ceará e do Piauí.

A petista tem entre um terço e metade a mais de eleitores do que o tucano em 18% das áreas do Ibope, contra 16% na vez anterior. Agora, ela tem vantagem de 5 a 35 pontos sobre Serra em 39% as áreas, contra 43% no mapa da semana passada.

Há empate técnico de Dilma e o tucano nos bairros centrais e de classe média de várias capitais do país. Isso acontece nas algumas das áreas mais abastadas de Goiânia (GO), Campo Grande (MS), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP) e até de Natal (RN).

Os dois líderes da corrida presidencial também estão tecnicamente empatados em regiões afluentes do interior do país, como em Blumenau (em Santa Catarina), em Piracicaba (São Paulo) ou Telêmaco Borba (Paraná).

Serra se destaca nas áreas mais ricas de algumas capitais do Sul e Sudeste: Curitiba, de São Paulo, Belo Horizonte e Florianópolis. Bate ainda a petista em regiões do interior do Paraná, como Irati e Ivaiporã, no interior de São Paulo (Sorocaba e Mogi-Mirim), e no interior gaúcho (Vacaria).

Além das áreas mais ricas do Sul e do Sudeste, o tucano leva vantagem sobre Dilma em algumas regiões do Acre. É porque lá, no seu Estado de origem, Marina Silva tem maiores taxas de intenção de voto e divide a disputa com os outros dois rivais.

Via sindical para o poder...

via sindical para o poder (O Estado de S.Paulo)


"Eu sou torneiro mecânico e é a única coisa que eu sei fazer... Não tenho pretensões políticas; não sou filiado a partido político e tenho certeza de que jamais participaria da vida política porque eu não sirvo para político." Essas frases são de Lula e foram pronunciadas numa entrevista ao Programa Vox Populi, da TV Cultura, de maio de 1978, quando era ainda presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. O presidente estava sendo modesto na avaliação de sua capacidade para a política. Para a sorte de alguns e azar de outros, não voltou para a fábrica nem para o sindicato.

A trajetória de Lula não é incomum na história do sindicalismo mundial. Quando os sindicatos eram frágeis e frequentemente clandestinos, a atividade sindical era mais uma missão do que uma profissão, missão que poderia dar cadeia e perda do emprego. Mas, na maioria dos países capitalistas, os sindicatos transformaram-se em poderosas, ricas e complexas organizações de massa. Como uma das mais bem-sucedidas instituições das sociedades capitalistas, transformaram-se numa via de ascensão social e econômica e, em alguns casos, de ascensão política para seus dirigentes.

No Brasil, antes de Lula, outros sindicalistas haviam tentado entrar para a classe política. A maioria o fazia pela via do PTB ou do PCB, portanto, de um modo subordinado às chefias partidárias. O caso do PT inverteu o processo: foram os sindicalistas que criaram o partido. Apesar da presença de outros segmentos sociais que ajudaram a viabilizar o PT - como a ala progressista da Igreja Católica e da intelligentsia de esquerda -, os sindicalistas constituíram sempre a facção dominante do partido. Controlavam a Articulação, considerada de direita pela esquerda petista. Dessa facção, à qual Lula pertencia, saíram os principais dirigentes do PT para as diferentes instâncias da estrutura de poder: Presidência da República, Ministérios, governadores, prefeitos e os vários níveis do Poder Legislativo.

Tomemos como exemplo a Câmara dos Deputados. Refletindo o fortalecimento do sindicalismo e dos partidos de esquerda, a bancada sindical cresceu. Na legislatura de 1991-1995 (pelos dados do Diap) havia 25 ex-diretores de sindicatos no Congresso. Na legislatura seguinte, o número foi para 36. Passou em seguida para 44. Na legislatura que resultou da eleição de 2002 (primeira eleição de Lula) chegou a 74. Para o Senado da República, cinco sindicalistas foram eleitos, todos do PT. Pode-se, de outro ângulo, perceber a forte vinculação do PT e do PCdoB com a estrutura sindical no fato de metade dos deputados desses dois partidos ter sido de diretores de sindicatos (53.ª legislatura, 2007-2010).

Mas na eleição de 2006, contrariando a tendência até então observada, nenhum sindicalista foi eleito para o Senado. Para a Câmara o número caiu para 56: 41 eram do PT, seis do PCdoB e três do PDT. Os demais dividiram-se entre PPS, PV (dois cada), PMDB e PSB (um cada). Um dos fatores que explicam esse declínio da bancada sindical foi a queda da votação no PT. Na eleição anterior, 91 petistas tinham sido eleitos. O PT transformara-se no maior partido da Câmara. Contudo, na legislatura seguinte, o PMDB, com 89 deputados, ultrapassou o PT, que ficou com 83. Uma vez que o PMDB está longe de ser um partido de sindicalistas, seu crescimento, acompanhado do pequeno declínio do PT, provavelmente foi uma das razões da diminuição da bancada sindical.

A manutenção da estrutura corporativa, juntamente com o fim dos controles antes exercidos pelo Ministério do Trabalho, transformou a instituição sindical numa via de entrada "por cima" na classe política. Na 53.ª legislatura (eleição de 2006), quase a metade dos parlamentares do PT e do PCdoB que foram diretores sindicais começou a carreira política elegendo-se diretamente para a Câmara. Apenas cerca de um terço teve uma trajetória mais sofrida, começando pela vereança.

Em princípio, a considerar a denominação oficial dos sindicatos brasileiros, além de representantes do povo, todos os ex-sindicalistas seriam representantes dos "trabalhadores". O termo comumente leva a pensar no operário manual. Na década de 1960, a figura que mais comumente o representava era o João Ferrador, que trazia estampada em sua camisa a frase ameaçadora: "Hoje eu não tô bom."

Mas a composição social das classes assalariadas mudou. E também a do sindicalismo. Os sindicatos em que predominavam trabalhadores manuais do setor privado perderam força. Os sindicalistas na Câmara são em sua ampla maioria de classe média, não manuais, do setor público, em que se destacam professores e bancários. Quase 70% dos membros da bancada sindicalista têm curso superior completo.

Não seria possível analisar mais detidamente a influência desse "fator sindical" na política brasileira, mas avancemos sumariamente duas observações. De um lado, ele aumenta o peso político dos segmentos assalariados das classes médias sindicalizáveis, que no momento, em aliança com o PT, empreendem a colonização do aparelho de Estado. Pode, desse ângulo, ser entendido como um fator de democratização social relacionado a uma mudança na elite política e social e na popularização da classe dos políticos profissionais. De outro lado, uma vez que os ex-sindicalistas vêm das estruturas corporativas, num movimento de retroação, a bancada sindical tende a reforçar o peso das instituições, dos interesses e valores corporativos na sociedade brasileira. Ao fim e ao cabo, se todos os demais fatores permanecerem iguais, o fator sindical tende a enfraquecer a democracia representativa, que sempre convive mal com a política de massas e os impulsos populistas que nela despontam.

Leôncio Martins Rodrigues e ex-professor titular dos Departamentos de Ciência Política da USP e da Unicamp, é autor de "Destino do Sindicalismo"

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

FSP

Charge

Maringoni

Tracking iG/Band Pesquisa de: 28 de Setembro

Tracking iG/Band
Pesquisa de: 28 de Setembro
  1. Dilma Rousseff
    49%
    Dilma Rousseff
    (PT)
  2. José Serra
    25%
    José Serra
    (PSDB)
  3. Marina Silva
    12%
    Marina Silva
    (PV)
  4. Brancos uo Nulos
    4%
    Brancos ou Nulos
  5. Indecisos
    8%
    Indecisos

Tucanos ...

Marcos Coimbra: “Para ter segundo turno, Dilma teria de perder 8 milhões de votos em seis dias”

Marcos Coimbra: “Para ter segundo turno, Dilma teria de perder 8 milhões de votos em seis dias”

Uma pequena entrevista por email, do presidente do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, ao Poder Online:

Marina Silva está crescendo sobre votos de Dilma Rousseff?

Não dá para dizer. Dilma cresceu tanto após o início do horário gratuito da propaganda eleitoral que roubou votos dos outros dois. Agora, esses votos estão, ao que parece, voltando para eles.

Quantos votos, de fato, Dilma precisa perder para que haja segundo turno?

Nos dados de nosso tracking (corroborados por vários outros que temos de pesquisas desenvolvidas em paralelo), a vantagem dela para a soma dos outros estava em 12 pontos percentuais ontem. Se 6 pontos passassem dela para os outros, a eleição empataria e o prognóstico de vitória no primeiro turno seria impossível. Como cada ponto equivale a mais ou menos 1,35 milhão de eleitores, isso seria igual a 8 milhoes de eleitores (sem raciocinar com abstenções).

Marina Silva pode ultrapassar José Serra?

É muito pouco provável, no conjunto do país. Possível em alguns lugares, como a região Norte e o DF. Talvez se consolide no Rio, onde ela já está na frente.

Qual o quadro que o senhor acha mais provável?

- Vitória de Dilma no primeiro turno.

Empresário muda versão e nega que propina seria para PT

Empresário muda versão e nega que propina seria para PT

São Paulo – O empresário que fez denúncias que levaram à saída da ministra-chefe da Casa Civil mudou a versão inicial de suas acusações. Rubnei Quícoli havia dito ao jornal Folha de S. Paulo que a empresa do filho da ex-ministra Erenice Guerra prometia conseguir a aprovação de empréstimo de R$ 9 bilhões ao BNDES graças a facilidades.

Agora, depois de sete horas de depoimento na Polícia Federal, Quícoli resolveu apresentar outra versão. Ao conversar com jornalistas na saída da oitiva, segundo relata O Globo Online , o empresário resolveu por fim esclarecer que não havia qualquer acerto para o pagamento de propina que serviria à campanha de Dilma Rousseff, candidata do PT à Presidência da República. Ele atribuiu ao ex-diretor dos Correios, Marco Antonio de Oliveira, a responsabilidade pela afirmação. “Não tem nada que diz que foi pedido dinheiro para campanha, para PT, para Dilma”, afirmou.

Na entrevista à Folha, Quícoli havia apresentado a versão de que chegou a se encontrar com Erenice Guerra para debater o projeto de uma usina de energia solar no Nordeste. Agora, a versão foi outra: “Eu não sei. Nunca posicionei uma informação dessa. A única informação que coloquei foi que o Marco Antonio me pediu esse valor para poder acertar alguma coisa entre eles lá. Eu nunca disse que esse dinheiro era para PT, para a campanha da Dilma.”

Quícoli gravou depoimento para o programa eleitoral do candidato do PSDB, José Serra, e confirmou ter sido filiado ao partido.

Histórico

Não é a primeira denúncia desmentida na corrida eleitoral. Na tentativa de conectar problemas a Dilma, a revista Veja publicou matéria que tratava do suposto caso de lobby envolvendo filhos da ex-ministra Erenice Guerra, apresentada nas matérias como braço direito da candidata.

No dia seguinte à publicação da reportagem, o empresário citado pela semanal emitiu nota dizendo-se surpreendido. Na ocasião, Fábio Baracat esclareceu que não trabalhou para a Vianet, empresa citada pela Veja, e que jamais teve de pagar propina a Israel Guerra, filho de Erenice. “Acredito que tenha contribuído com o esclarecimento dos fatos, na certeza de que fui mais uma personagem de um joguete político-eleitoral irresponsável do qual não participo”, pontuou.

Tracking mostra candidatura Dilma estabilizada

Tracking mostra candidatura Dilma estabilizada
Publicado em 28-Set-2010
A candidata a presidente da República, Dilma Rousseff...

A candidata a presidente da República, Dilma Rousseff (governo-PT-partidos aliados) manteve pelo 3º dia consecutivo seu índice de intenção de voto, a do PV, Marina Silva, caiu e o tucano José Serra (PSDB-DEM-PPS) oscilou e subiu um ponto das intenções de voto no tracking Vox Populi/Band/iG divulgado nesta 3ª feira.

Dilma se manteve com 49% das intenções de voto; José Serra, 2º colocado, foi de 24% para 25%; e Marina, que na 2ª feira contava com 13%, caiu para 12% interrompendo sua trajetória de três dias consecutivos de crescimento. A margem de erro da pesquisa é de 2,2 pontos percentuais.

Em função do apoio e da alta popularidade do presidente Lula na Região Nordeste, Dilma tem ali o seu melhor desempenho: 65%. Pelas projeções, José Serra tem hoje 15% dos votos do Nordeste e Marina, 7%. Dilma continua a liderar em todas as regiões do país, inclusive na região Sudeste, sua pior performance: ela tem 42% das intenções de voto; José Serra, 27%; e Marina, 16%. Pelo tracking, no Sul, Dilma registra 45% e José Serra 34%.

Na pesquisa espontânea (não são apresentados nomes de candidatos), a petista, na frente, tem quase o dobro de votos de José Serra: 43% ela (um ponto a mais que na pesquisa anterior) e 22% ele. Marina registra 9%. O tracking Vox/Band/iG entrevista um universo de 2 mil pessoas, 1/4 destas (500) consultado diariamente.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Escrevo a 120 horas da mais importante eleição do século 21. O clima esquentou, o que é notável, pois o cenário de hipódromo quando um cavalo dispara na frente e ganha de ponta a ponta é frustrante para aqueles que apostaram em outros cavalos e até mesmo para o vencedor, que evidentemente gosta da disputa.
Eleição como corrida de cavalo é emoção, muitas vezes não tem muita lógica. As recentes pesquisas devolveu o clima acirrado. Temos exageros, como a pauta sistematicamente negativa dos jornalões e das TVs. No exterior o enfoque é outro pois, The Independent,Le Monde, Times, News Week, Financial Times não economizam elogios a Lula e dizem que Dilma será uma das mais importantes mulheres da próxima década.
Não acredito em onda verde, que para mim é verde de vergonha, pois Marina queimou todo o seu capital , digo ecocapital político nesta eleição.
Serra foi abandonado, dizem que FHC no exterior já anunciou a sua derrota e especula-se a sua candidatura a sucessão do Kassab.
Dilma porem precisa se soltar mais, ficar mais a vontade, pois tem a melhor proposta, o maior cabo eleitoral, a melhor campanha, disparado o melhor programa de tv, a melhor avaliação do povo brasileiro, não precisa ter medo de nada, pois a sua militância não tem parâmetro na história do Brasil.
Temos todas as condições de vencer no 1º turno e abrir uma nova frente de trabalho e conquista para o nosso povo. Dilma em pouco mais de 130 horas, a partir das 7:23 desta terça-feira, será Presidente do Brasil !

Em tempos de eleição… Um texto inteligente, sem baixarias!!!


Este texto é maravilhoso. Retrata muito bem tudo o que penso. Texto magistral. Mas a pergunta do título tem uma resposta clara, pois se elegermos a Dilma Roussef, sei que o Brasil está nas mãos de uma mulher extremamente competente, assim como Lula. Sei que ficaremos bem. Muito bem!!! O jornal britânico The Independent afirmou em reportagem que ela se prepara para ser “a mulher mais poderosa domundo” e “uma líder extraordinária.” Logo abaixo deste texto coloco a matéria do The Independent traduzida por Katarina Peixoto. Que venha a Dilma!!!!

E AGORA COMO FICAMOS?
Pedro Lima
(Economista e Professor da UFRJ)
Lula, que não entende de sociologia, levou 32 milhões de miseráveis e pobres à condição de consumidores; e que também não entende de economia; pagou as contas de FHC, zerou a dívida com o FMI e ainda empresta algum aos ricos. Lula, o analfabeto, que não entende de educação, criou mais escolas e universidades que seus antecessores juntos [14 universidades públicas e estendeu mais de 40 campi], e ainda criou o PRÓ-UNI, que leva o filho do pobre à universidade [meio milhão de bolsas para pobres em escolas particulares]. Lula, que não entende de finanças nem de contas públicas, elevou o salário mínimo de 64 para mais de 291 dólares [valores de janeiro de 2010], e não quebrou a previdência como queria FHC.
Lula, que não entende de psicologia, levantou o moral da nação e disse que o Brasil está melhor que o mundo. Embora o PIG-Partido da Imprensa Golpista, que entende de tudo, diga que não. Lula, que não entende de engenharia, nem de mecânica, nem de nada, reabilitou o Proálcool, acreditou no biodiesel e levou o país à liderança mundial de combustíveis renováveis [maior programa de energia alternativa ao petróleo do planeta]. Lula, que não entende de política, mudou os paradigmas mundiais e colocou o Brasil na liderança dos países emergentes, passou a ser respeitado e enterrou o G-8 [criou o G-20]. Lula, que não entende de política externa nem de conciliação, pois foi sindicalista brucutu; mandou às favas a ALCA, olhou para os parceiros do sul, especialmente para os vizinhos da América Latina, onde exerce liderança absoluta sem ser imperialista. Tem fácil trânsito junto a Chaves, Fidel, Obama, Evo etc. Bobo que é, cedeu a tudo e a todos. Lula, que não entende de mulher nem de negro, colocou o primeiro negro no Supremo (desmoralizado por brancos) uma mulher no cargo de primeira ministra, e que pode inclusive, fazê-la sua sucessora.
Lula, que não entende de etiqueta, sentou ao lado da rainha (a convite dela) e afrontou nossa fidalguia branca de lentes azuis.
Lula, que não entende de desenvolvimento, nunca ouviu falar de Keynes, criou o PAC; antes mesmo que o mundo inteiro dissesse que é hora de o Estado investir; hoje o PAC é um amortecedor da crise. Lula, que não entende de crise, mandou baixar o IPI e levou a indústria automobilística a bater recorde no trimestre [como também na linha branca de eletrodomésticos]. Lula, que não entende de português nem de outra língua, tem fluência entre os líderes mundiais; é respeitado e citado entre as pessoas mais poderosas e influentes no mundo atual [o melhor do mundo para o Le Monde, Times, News Week, Financial Times e outros...]. Lula, que não entende de respeito a seus pares, pois é um brucutu, já tinha empatia e relação direta com George Bush - notada até pela imprensa americana – e agora tem a mesma empatia com Barack Obama. Lula, que não entende nada de sindicato, pois era apenas um agitador; é amigo do tal John Sweeny [presidente da AFL-CIO - American Federation Labor-Central Industrial Congres - a central de trabalhadores dos Estados Unidos, que lá sim, é única...] e entra na Casa Branca com credencial de negociador e fala direto com o Tio Sam lá, nos “States”.
Lula, que não entende de geografia, pois não sabe interpretar um mapa é autor da [maior] mudança geopolítica das Américas [na história].
Lula, que não entende nada de diplomacia internacional, pois nunca estará preparado, age com sabedoria em todas as frentes e se torna interlocutor universal.Lula, que não entende nada de história, pois é apenas um locutor de bravatas; faz história e será lembrado por um grande legado, dentro e fora do Brasil. Lula, que não entende nada de conflitos armados nem de guerra, pois é um pacifista ingênuo, já é cotado pelos palestinos para dialogar com Israel. Lula, que não entende nada de nada; é bem melhor que todos os outros…!
Pedro Lima * Economista e professor de economia da UFRJ – A Rebeldia do Conhecimento.

Lula, o presidente intocável

Lula, o presidente intocável

Le Monde

Olivier Dabène e Frédéric Louault*

  • Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante as comemorações do 7 de SetembroPresidente Luiz Inácio Lula da Silva durante as comemorações do 7 de Setembro

O Brasil está sonhando acordado. Faltam superlativos para descrever a intensa relação que os brasileiros vêm mantendo com o presidente Lula. A ponto de se imaginar se o país conseguirá ficar sem ele. Dilma Rousseff, que o sucederá em janeiro de 2011, certamente se empenhará em dar prosseguimento ao trabalho de seu mentor, mas sem causar entusiasmo. O balanço dos oito anos de presidência de Lula parece, entretanto, ter resultados mistos.

No plano econômico, onde não se esperava, ele é excelente. Em comparação com seu passado de dirigente sindical durante a ditadura militar e de fundador do Partido dos Trabalhadores (PT), três vezes candidato derrotado à eleição presidencial (1989, 1994 e 1998), Luiz Inácio Lula da Silva, ou Lula, se candidatou às eleições de 2002 com um discurso moderado, escolado pelas suas derrotas. Como seus acessos de fúria do passado contra as políticas de ajuste o prejudicaram, ele procurou inspirar confiança.

A carta ao povo brasileiro, de 22 de junho de 2002, deu o tom: “O PT e seus parceiros têm consciência de que a superação do atual modelo não será feita em um passe de mágica”; “Uma transição lúcida e prudente será necessária”; “Uma condição para essa transição será o respeito aos contratos e compromissos do país”; “A estabilidade, o controle das finanças públicas e da inflação constituem um patrimônio de todos os brasileiros”. O PT entrou na era do pragmatismo e deu as costas para a busca por uma alternativa ao neoliberalismo.

Quando assumiu o cargo, em 2003, Lula incluiu na ordem do dia a busca por políticas de estabilidade macroeconômica e manteve esse rumo até que decidiu lançar o Programa de Aceleração do Crescimento em 2007, com foco no desenvolvimento da infraestrutura. Perturbado pela crise de 2009, esse programa teve uma segunda fase a partir de março, em pleno ano eleitoral. A julgar pelos indicadores, como um todo Lula foi mais bem sucedido que seu predecessor Fernando Henrique Cardoso. O crescimento vem se acelerando, a inflação está sob controle e os brasileiros estão ganhando poder aquisitivo.

Além disso, a estabilidade monetária e a aceleração das trocas comerciais permitiram que o Brasil acumulasse reservas, que hoje representam treze meses de importação. Diferentemente da década anterior, o Brasil não precisa mais temer as turbulências financeiras internacionais. Mas esses bons resultados são só parcialmente produto da conversão de Lula à ortodoxia. Eles também devem ser situados no contexto de um ambiente internacional favorável. Outros países da América Latina, como o Chile ou o Peru, se saíram ainda melhor durante esses anos de crescimento entre 2003 e 2009.

Consequência da continuidade em matéria econômica, a política social de Lula decepcionou aqueles, à esquerda, que esperavam reformas estruturais (fiscal, proteção social, reforma agrária) e investimentos públicos (educação, saúde, infraestrutura) para reduzir as desigualdades. Ora, as duas presidências de Lula se mostraram pouco ambiciosas nesses pontos: os gastos públicos em relação ao PIB não aumentaram em comparação com os anos FHC. Em alguns domínios, chegou-se a observar uma desaceleração dos progressos. O acesso dos jovens entre 18 e 24 anos à universidade, por exemplo, que passou de 7,2% em 1996 para 11,6% em 2002 (ou seja, 61% de crescimento sob FHC), chegou a 17,2% em 2008 (ou seja, 48% de aumento sob Lula). A diferença de acesso entre os brancos e os negros, em compensação, diminuiu mais rapidamente sob o governo de Lula.

Todavia, o duplo mandato de Lula é saudado por seus resultados em matéria de combate à pobreza, e com razão. Mencionaremos, em especial, a valorização do salário mínimo (que diz respeito a cerca de 45 milhões de pessoas), que começou com o governo de FHC, mas que se acelerou com Lula, passando de R$ 200 em 2002 para R$ 510 em 2010. Em termos de poder de compra, enquanto um salário mínimo cobria o preço de 1 a 1,5 cesta básica entre 1995 e 2004, essa proporção passou para 2,3 em 2010. Da mesma forma, em matéria de amparo social, o número de beneficiários da pensão mínima por velhice e invalidez, entre outros, passou de 1,3 milhão para 2,9 milhões entre 2001 e 2008.

Por fim – e acima de tudo – os sistemas de distribuição de renda, lançados por FHC no início de 2001, foram reorganizados no governo de Lula. Após o fracasso do plano inicial de combate à fome (o emblemático Fome Zero), Lula criou em 2003 o programa de transferência condicionada Bolsa Família. Com a condição de que seus filhos frequentem a escola e tenham acompanhamento médico, as famílias mais pobres recebem entre R$ 20 e R$ 182 por mês. O número de famílias que recebem esse benefício passou de 3,6 milhões em 2003 para 12,4 milhões em 2009.

No total, 19,5% das famílias brasileiras recebem algum auxílio (somente 6,9% no Estado de Santa Catarina, no Sul, contra 47,6% no Estado do Maranhão, no Norte). O programa Bolsa Família produziu resultados notáveis. O Brasil viu seus níveis de pobreza e desigualdade diminuírem simultaneamente. A pobreza, que atingia mais de 40% da população entre 1988 e 1993, havia começado a diminuir no governo de FHC (35%). No governo de Lula, ela caiu para 23% em 2008.

De fato, pela primeira vez em sua história, o Brasil está se tornando um país de classes médias (a classe C das rendas), que passaram de 30,9% da população em 1993 para 42,3% em 2004 e 51,9% em 2008. Essa transformação social é considerável para milhões de brasileiros, que podem consumir, e até poupar, ou ainda entrar na economia formal graças a um contrato de trabalho. Círculo virtuoso, a redução da pobreza dinamizou ainda visto que a conjuntura mundial era promissora. Então Lula ganhou em sua aposta de reduzir a pobreza e as desigualdades, mas sem trazer uma solução perene aos problemas estruturais do Brasil.

Mas é no nível político que Lula mais decepcionou. Em 2002, a vitória de Lula despertou a utopia, entre o eleitorado mais politizado, de uma ruptura com as práticas políticas tradicionais. Quando Lula assumiu o poder, o PT contava com diversas experiências de governo em coletividades locais (prefeituras de São Paulo e Porto Alegre; governo do Estado do Rio Grande do Sul, etc.), onde ele introduziu novas práticas políticas de democracia participativa e de combate à corrupção: “o modo PT de governar”. Em suma, ele fabricou para si uma reputação de partido ético, democrático e reformista.

Ora, a moralização da política é o ponto mais obscuro da era Lula. Sua experiência no poder levou (obrigou?) Lula a se adaptar ao sistema político clientelista, do qual ele foi o principal crítico quando estava na oposição. Ciente dos limites de seu poder, Lula privilegia o pragmatismo em detrimento do confronto. Ele conta com as elites para governar, desprezando seus princípios fundadores com uma audácia desconcertante. Em 2005, o escândalo do Mensalão enterrou o “modo PT de governar”. Diante de um Congresso fragmentado, o PT construía maiorias legislativas pontuais à base de compra de votos. O esquema era simples: corromper os opositores para não ter de selar alianças restritivas demais. Todo mês, deputados da oposição recebiam propinas para votar os projetos de lei do governo. O escândalo custou os cargos do primeiro-ministro José Dirceu (que foi substituído por Dilma Rousseff) e do presidente do PT, José Genoíno.

Apesar de este caso ter sido traumático para a base partidária, Lula conseguiu se proteger, limitando o desgaste de sua popularidade. Ele se colocou acima do PT, personalizou o fim de seu mandato para manter ligações cada vez mais diretas com seu eleitorado. Além disso, ele foi reeleito sem dificuldades em 2006. Mas, depois desse escândalo, Lula teve de aceitar jogos de negociação mais clássicos para governar. Ele se aproximou de caciques que combateu no passado, e o governo se tornou cada vez mais dependente do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), um partido político desprovido de qualquer coerência ideológica, mas central nos jogos de alianças. Portanto, quanto à reforma política, o balanço de Lula é decepcionante: as elites políticas tradicionais mantiveram o sorriso… e o poder. E o PT perdeu sua singularidade, pelo menos em escala nacional.

Em compensação, a presença do Brasil no cenário internacional ultrapassou, em oito anos, um limiar qualitativo. Claro, a política externa do país contém elementos de continuidade (reivindicação de um status de grande potência, projeto de inserção internacional com fins desenvolvimentistas, apoio ao multilateralismo). Mas com Lula, o Brasil criou um projeto político visando ter peso na ordem mundial, ao dinamizar as solidariedades Sul-Sul. Lula primeiramente fez da relação com a América Latina uma prioridade.

O Mercado Comum do Sul (Mercosul) teve alguns avanços, ainda que tímidos, pois o Brasil não pode considerar um aprofundamento da integração que equivalha a abandonos de soberania. Em vez disso, Lula preferiu optar por sua ampliação, facilitando a adesão da Venezuela, sendo que esse país não fez nenhum esforço para se adaptar ao “acervo comunitário”do Mercosul. O foco foi colocado principalmente sobre a “vizinhança”, ou seja, sobre toda a América do Sul, onde o Brasil construiu uma União das Nações Sul-Americanas (Unasul), com objetivos centrados nas questões de segurança e infraestrutura. O Brasil desenvolveu assim suas relações bilaterais com um certo número de países, sobre uma base política ou econômica, graças ao Banco Nacional de Desenvolvimento.

E assim se construiu uma liderança regional, cujo custo às vezes o Brasil teme ter de assumir. Por extensão, ele ativou várias solidariedades Sul-Sul pelo mundo. Lula foi para a África 21 vezes e ali abriu novas embaixadas. Trabalhou estreitamente com a Índia e a África do Sul nos limites multilaterais e se tornou um ator indispensável na Organização Mundial do Comércio (OMC). Mas Lula cometeu gafes. Suas visitas aos ditadores africanos ou sua defesa do Irã minaram um pouco de sua credibilidade, mas sem que seu imenso prestígio e sua notoriedade internacional fossem abalados.

O saldo de Lula à frente do Brasil é cheio de contradições. Por trás de suas ações deslumbrantes, as estruturas de desigualdade – que atravessaram a história do Brasil – não foram questionadas. Como observava o sociólogo Roger Bastide já em 1955, “no Brasil, o velho está no novo”. Ainda que Lula tenha conseguido produzir alguns elementos-chave da potência brasileira, seu balanço não bastou para explicar sua insolente popularidade: ele soube cultivar, durante seus dois mandatos, a imagem de um político próximo do povo, conhecedor dos problemas e das necessidades dos brasileiros. Primeiro presidente da história do Brasil não originário da elite econômica ou política, ele pôde contar, para tanto, com uma trajetória política fora do comum, adaptada para o cinema em 2009 com o filme de Fabio Barreto, “Lula: o filho do Brasil”.

Mas sua política de conciliação o tornou popular junto a todas as categorias da população, especialmente entre o empresariado e as classes mais abastadas. É uma retribuição justa, uma vez que se sabe que as empresas brasileiras prosperaram e que o número de milionários disparou entre 2003 e 2010… a supervalorização do balanço de Lula (sobretudo fora do Brasil) está muito associada à sua personalidade, à relação empática, quase carnal, que ele mantém com seus interlocutores (sejam eles os necessitados ou os poderosos deste mundo). Sua popularidade também é fruto de um enorme trabalho de comunicação política. É por isso que, mesmo no auge dos escândalos ou quando ele comete suas gafes, nada afeta sua popularidade. Lula resiste ao desgaste político. Ele terá sido o primeiro “presidente Teflon” do Brasil.

Dada como favorita às eleições presidenciais do dia 3 de outubro, Dilma Rousseff se comprometeu a dar continuidade às ações de Lula, que ela vem conduzindo desde 2005, à frente do governo. Mas apesar de esta sucessão parecer tranquila e natural, ela terá um legado pesado para carregar: administrar as contradições da era Lula e buscar a política dos equilíbrios macroeconômicos e sociais. Ou seja, responder às expectativas crescentes de inclusão das populações pobres sem dar as costas para as elites econômicas sobre as quais se apóia o desenvolvimento (e portanto sem atacar seus privilégios).

Uma tarefa ainda mais complexa pelo fato de que ela sucederá um personagem político mítico. Menos carismática e menos próxima do povo do que Lula, Dilma Rousseff ainda não tem as qualidades de “mãe do Brasil” que o presidente lhe atribui em público. Mais técnica do que política, mais autoritária do que conciliadora, ela tem um estilo diferente de seu predecessor. O slogan “Dilma é Lula”, martelado durante a campanha eleitoral, suscita fortes expectativas: a de consolidar a trajetória ascendente do Brasil e de fazer deste país emergente o “país do futuro” profetizado por Stefan Zweig em 1941.

*Olivier Dabène é professor do instituto Sciences Po e Frédéric Louault é professor-assistente do Sciences Po

Vitória sem maioria qualificada cria desafios para Chávez

27/09/2010 - 05:58 | Breno Altman | Caracas / Ópera Mundi
Vitória sem maioria qualificada cria desafios para Chávez

O PSUV (Partido Socialista Unificado da Venezuela) tem bons motivos para comemorar os resultados eleitorais de ontem (26/09). Os socialistas conquistaram, até o momento, 95 das 165 cadeiras da Assembléia Nacional. A oposição de direita, coligada na MUD (Mesa de Unidade Democrática), chegou a 61 assentos. Outras duas vagas ficaram com o PPT (Partido Pátria para Todos), que recentemente rompeu com o governo. Ainda há sete vagas indefinidas.

Nas próximas horas o quadro eleitoral estará completo. Mas é fato que o PSUV, se excetuarmos a última legislatura, para a qual a oposição sequer concorreu, conquistou maioria inédita na história parlamentar do país. Além disso, foi vitorioso em 17 dos 24 estados, perdeu em apenas cinco e empatou em outros dois. Tudo isso em um cenário de grave crise econômica, marcada pela inflação e a redução da atividade produtiva. Não é pouca coisa.

Quase 67% dos 17,5 milhões de eleitores registrados foram às urnas, apesar do voto ser facultativo. Mesmo os oposicionistas mais ferozes, ainda que criticando o sistema eleitoral baseado no voto distrital misto, reconheceram a lisura do pleito. Mais de uma centena de observadores internacionais também deram seu aval. O presidente Hugo Chávez, como bônus adicional a seu triunfo, acabou por ver chancelado o caráter democrático do processo que lidera.

Mas nem tudo são flores para o chavismo. Primeiro, porque não conseguiu alcançar o objetivo que se propunha, o de obter maioria qualificada (110 cadeiras) no parlamento. Qualquer mudança constitucional, a partir de agora, terá que ser negociada ao menos com parte da oposição. O mesmo vale para a nomeação de alto mando do poder judiciário e outras instituições.

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Segundo, porque sua vitória em número de cadeiras legislativas não representa sólida vantagem na quantidade total dos votos nacionais: o país praticamente se dividiu entre situação e oposição, com uma ligeira dianteira do oficialismo. Claro que não se pode projetar essa aritmética para as eleições presidenciais de 2012, o que não reduz a preocupação nas fileiras governistas.

Por fim, os socialistas sofreram golpes duros em estados que concentram grandes contingentes populacionais e que são estratégicos na produção de riquezas, como é o caso de Zulia. Nessa província, a oposição levou 12 das 15 vagas em disputa. O consolo, insuficiente, ficou por conta do Distrito Capital, no qual o PSUV amealhou sete das dez cadeiras disponíveis.

Novos desafios

O novo ambiente certamente impõe desafios para Hugo Chávez. Nos últimos cinco anos, graças ao boicote promovido pela oposição, o presidente pode operar a Assembléia Nacional como um braço do governo. Ainda que cumprisse todos os ritos e processos legais, tinha a segurança do alinhamento automático. Essa fase provavelmente chegou a seu final.

A vida parlamentar, tornada mais plural, obrigará os socialistas a fazer política de outro jeito, buscando dividir as correntes oposicionistas e eventualmente atrair nacos dessas frações para acordos pontuais, quando for necessário formar maioria constitucional. Esse molejo nas articulações pode ser indispensável não somente para a aprovação de leis e nomeações, como também para impedir que a oposição se apresente como um bloco unido na próxima disputa presidencial.

Não será apenas no terreno das manobras parlamentares, entretanto, que Chávez e os socialistas terão que mostrar serviço. Milhões de venezuelanos, eleitores de primeira hora do presidente, ultrapassaram a linha da miséria nos últimos dez anos. Elevados à condição de uma nova classe média, não se contentam com os poderosos planos sociais que dão a marca da gestão chavista. Ambicionam empregos melhores, prosperidade e consumo. A estabilidade e o desenvolvimento da economia passam, assim, a ter papel ainda mais relevante.

Alguns analistas chegam a afirmar que o presidente deveria repensar o “guevarismo” como estratégia de ação. Tal conceito abriga a consideração de que Chávez tende a considerar possível resolver quase todos os problemas com base na vontade militante. Essa lógica o levaria a abrir várias frentes simultâneas, nacionais e internacionais, muitas vezes estressando sua própria base de apoio, que pode estar se cansando da prioridade à luta político-ideológica.

O resultado das urnas para a Assembleia Nacional talvez conduza o presidente a focar sua intervenção nas questões cruciais referentes ao trabalho, à renda e às condições de vida dos venezuelanos. Chávez fez uma revolução social em seu país, criando um modelo potente para a distribuição da riqueza e o combate à pobreza extrema. Nisso reside sua fortaleza eleitoral. Mas ainda não conseguiu dar cabo de construir um modelo econômico que permita a Venezuela um ciclo longo e sustentável de crescimento, capaz de financiar novos avanços distributivos.

O presidente não foi ao palanque de Miraflores na madrugada dessa segunda-feira comemorar a vitória socialista. Delegou essa tarefa à direção do PSUV. Muitos estão curiosos por saber o que dirá a seus seguidores e compatriotas nos próximos dias. Não resta dúvidas, afinal, de que o cenário venezuelano sofreu importantes mudanças nas últimas horas.

Emir Sader: O que representa esta derrota da direita

Opinião

23/09/2010
Emir Sader: O que representa esta derrota da direita


Postado por Emir Sader em seu blog no Carta Maior (www.cartamaior.com.br)

A direita tinha sido vitoriosa ao longo da história brasileira, desde 1964. Nesse momento interrompeu um governo que democratizava o país do ponto de vista econômico, social e político, incentivava a consciência nacional e a identidade cultural brasileira, para instaurar uma ditadura militar, que promoveu o maior processo de concentração de renda que o Brasil já tinha conhecido.

Esgotada a ditadura, a direita conseguiu limitar os alcances da democratização, que reinstaurou um regime político liberal, mas sem afetar os pilares das relações de poder no Brasil: não foi democratizada a posse da terra, o poder dos bancos, das grandes corporações, da mídia. Esgotado também o impulso democratizador, durante o governo Sarney, foi implementado o modelo neoliberal, primeiro com Collor e depois, diante da queda deste, no governo Itamar, com FHC. Nova e grande vitória da direita, ainda mais que conseguiu que algum proveniente da oposição à ditadura se responsabilizasse por impor esse modelo – que caracteriza a direita no mundo contemporâneo.

O triunfo de Lula, caso este tivesse sido cooptado e mantido o modelo herdado de FHC, teria sido também outra vitória, indireta, com a mão do gato, para a direita. Se a versão da ultra esquerda tivesse sido certa, o Lula teria revigorado o neoliberalismo, dando-lhe umas mãos de cal de políticas assistencialistas e controlando o movimento popular. Teria sido o melhor administrador do neoliberalismo.

Mas a realidade não foi essa. O modelo foi readequado, o Estado retomou sua função de indutor do crescimento econômico, que foi recolocado em pauta, depois de ter sido abolido pelo governo FHC. Instaurou-se ao longo do mandato do Lula um modelo de desenvolvimento econômico e sócia, alterando, pela primeira na história brasileira, a desigualdade social – e de forma significativa.

A política externa assumiu a soberania nacional como principio fundamental, deslocou o eixo das alianças do norte para o Sul do mundo, privilegiando em particular os processos de integração regional e contribuindo para a construção de um mundo multipolar.

A direita conseguiu sobreviver com o governo Lula, seus interesses não foram profundamente afetados, mas perderam o manejo direto do Estado, das estatais, a promiscuidade com a presidência e viram, ao contrário dos seus gostos, o Estado utilizar recursos para políticas sociais, desenvolver relações de fraternidade política com países vizinhos, limitar o espaço do mercado, amplamente estendido na década anterior.

A direita econômica prefere o Serra, mas sem o extremismo da direita política. De qualquer forma, ambas serão derrotadas com a vitória da Dilma e de um projeto nacional, de uma sociedade de inclusão, de um governo para todos. Estavam acostumados a se valer do Estado a seu bel prazer para seus próprios interesses.

A direita partidária e midiática – hoje confundida – é a maior derrotada. Perdeu capacidade de influência, sai com os seus partidos e seus órgãos da imprensa reduzidos à sua mínima expressão. Ainda mais que, os órgãos da mídia, depois do ano de Copa do Mundo e de eleições e da nova crise de legitimidade destas eleições, depois da descida para a metade da tiragem em uma década, devem ter outra queda grave, com a conseqüente crise financeira.

Os partidos opositores sofrerão uma grande crise de identidade, devendo se diferenciar entre os negociadores – tipo Aécio – e os extremistas, como o DEM e políticos remanescentes como Tasso Jereissatti, deslocados pela derrota e pelo sucesso do governo Lula.

Sofrem este ano a maior derrota política em décadas, com perspectiva de um lento e prolongado processo de recomposição, que ainda não parece delinear o perfil novo que venham a assumir.

Por que a grande mídia e a oposição resolveram jogar sujo

Opinião
/ Eleições 2010

22/09/2010
Vinicius Wu: Por que a grande mídia e a oposição resolveram jogar sujo


Revisitemos as declarações de Serra e de diversos articulistas da grande mídia simpáticos à sua candidatura ao longo de 2009 e início deste ano. Sem esforço, perceberemos que sua estratégia eleitoral baseava-se na tese do ?contraste de biografias?. Inebriado por sua vaidade, Serra alimentou a certeza de que a comparação de sua trajetória política com a de Dilma seria a senha para a vitória. Ocorre que o povo brasileiro rejeitou a fulanização do debate. Optou por contrastar os projetos de Brasil disponíveis e sepultou as pretensões tucanas nestas eleições.

Mas o drama da oposição não termina aí. Afinal, estamos diante de um processo ainda mais complexo, que está na origem da impotência política da oposição hoje. Diante do atual cenário, tiveram de optar entre a resignação diante da derrota e o surto golpista que assistimos nos últimos dias. Compreender os motivos que desencadearam este processo é o que buscaremos nas próximas linhas.

Crise do neoliberalismo e mudança do léxico político brasileiro
As eleições de 2010 encerram a profunda alteração do léxico político brasileiro em curso desde o embate eleitoral de 2002. A crise do paradigma neoliberal possibilitou uma mudança radical dos termos e dos conceitos através dos quais se organiza a luta política no país.

Se nas eleições de 1994 e 1998 o debate eleitoral orbitava em torno do tema da ?estabilidade?, desde 2002 vivemos um profundo deslocamento do debate em direção aos temas do desenvolvimento, da inclusão social e distribuição de renda. Ou seja, a disputa política passou a se desenvolver a partir de temas estranhos ao receituário neoliberal. Esta foi a grande derrota política do bloco conservador proporcionada pela vitória de Lula em 2002.

Portanto, o debate político nacional nos últimos anos passou por uma verdadeira metamorfose que desencadeou: 1. Uma mudança de problemática: da manutenção da estabilidade econômica e do ajuste fiscal para a busca do desenvolvimento e da justiça social; 2. uma alteração da lógica argumentativa: a defesa das privatizações e do enxugamento do Estado cedeu lugar ao combate às desigualdades e ampliação do alcance das políticas públicas e; 3. uma mudança de conceitos: crescimento econômico, papel indutor do Estado, distribuição de renda, cidadania etc. passam a integrar, progressivamente, o discurso de todas as correntes políticas do país.

Este é o grande legado político da ?Era Lula? e diante do qual as respostas da direita brasileira foram absolutamente insuficientes até aqui.

O novo protagonismo dos pobres
Paralelamente ao processo supramencionado, foi sendo desenvolvida uma nova consciência das camadas populares no país, que identificaram em Lula a expressão viva de seu novo protagonismo. O operário do ABC paulista alçado à condição de Presidente mais popular da história da República é a síntese perfeita da nova condição política dos ?de baixo?.

Ao afirmar recentemente que ?nós? somos a opinião pública, o Presidente Lula não está cedendo a nenhuma tentação autoritária, como desejam alguns mal intencionados articulistas da grande mídia. O que está em jogo é o fim da tutela dos ?formadores de opinião? sobre a formação da opinião nacional. Este é o motivo do desespero crescente da mídia monopolista do centro-sul do país.

Há uma revolução democrática em curso no Brasil e ela altera profundamente a forma como os pobres se relacionam com a política. O país vivencia uma inédita e profunda reestruturação de seu sistema de classes. As implicações deste processo para o futuro da nação ainda não são mensuráveis.

A grande mídia e a oposição não compreenderam que o país entrou em um novo período histórico e, desta forma, correm o risco de ficarem falando sozinhas por um bom tempo.

As pessoas não estão votando em personalidades, como supunham os próceres da campanha Serra. Estão votando no futuro - no seu futuro e no futuro do país.

A disputa eleitoral de 2010 não ficará marcada pelo ?confronto de biografias?. Esta é a eleição da aposta no ?Devir-Brasil? no mundo, como sugere Giuseppe Cocco. O país recompôs a esperança em seu futuro e deseja ser grande. Os brasileiros querem continuar mudando e, principalmente, melhorando suas vidas.

E o eleitor brasileiro não está ?inebriado pelo consumo? como afirmou, revoltado, um dos mais preconceituosos articulistas da grande mídia. Os seres humanos fazem planos, sonham, imaginam uma vida melhor para si e para seus filhos. As pessoas estão sim - e é absolutamente legitimo que o façam - votando com a cabeça no seu próximo emprego; no seu próximo carro ou eletrodoméstico; no seu próximo empreendimento; na faculdade dos seus filhos; em seus filhos... É uma opção consciente. Não querem retroagir, preferem a continuidade da mudança conduzida por Lula, por mais que esperneiem os articulistas sempre bem pagos da grande mídia.

A "Conservação" da mudança
Talvez, nem o próprio Presidente Lula tenha se dado conta de uma outra - e também decisiva - derrota imposta ao bloco conservador. Trata-se da apropriação e ressignificação de um dos conceitos mais caros ao neoliberalismo.

Lula tomou para si a primazia da estabilidade. A defesa da estabilidade (quem diria?!) passa ser tarefa da esquerda brasileira. Mas não a estabilidade neoliberal, e sim uma nova estabilidade; a da continuidade da mudança.

O slogan da campanha Dilma não poderia ter sido mais adequado: ?Para o Brasil seguir mudando?. Esta é a perfeita síntese da opinião popular no atual período; continuar mudando para que permaneçam abertas ? e se ampliem ? as possibilidades de mobilidade social, de emancipação e prosperidade econômica. A mensagem é simples e foi acolhida pela maioria do povo brasileiro: ?conservar? a mudança e não retroagir.

A "venezuelização" do comportamento da grande mídia
Derrotados em seus próprios conceitos; perplexos diante de uma ampla maioria que lhes vira as costas (só 4% da população rejeitam Lula); impotentes diante de uma nova realidade, que se impõe diante de seus olhos, só lhes resta o golpe, que não tem força pra dar.

E se não podem ?restaurar a democracia? à força, resta-lhes, então, trabalhar para que a disputa política no próximo período se dê em outros termos. Como imaginam que estarão livres da força de Lula a partir de Janeiro de 2011, iniciam uma virulenta campanha de difamação, deslegitimação e questionamento da autoridade daquela que deverá ser a primeira Presidenta do país.

Desejam fazer do Brasil uma nova Venezuela, onde posições irreconciliáveis travam uma luta sem tréguas, instaurando um clima de instabilidade e insegurança generalizado. Querem que oposição e governo não dialoguem. Preferem a radicalização ao entendimento. Concluíram que esta é a única maneira de derrotar as forças populares no futuro. Precisam retirar de nossas mãos o primado da estabilidade. Querem, de fato, venezuelizar o Brasil.

Mal se deram conta de que quase ninguém sairá vencedor em Outubro confrontando-se com Lula. Em todas as regiões do país, candidatos oposicionistas bem sucedidos resolveram absorver Lula e o sucesso de seu governo. Raros serão os candidatos oposicionistas que vencerão com discurso de oposição.

A "venezuelização" que pretendem esbarrará na força política que se assenta na emergência de um novo Brasil, que estamos a construir, e na fé de nosso povo em um futuro diferente daquele que imaginaram as oligarquias deste país.

Twitter: @vinicius_wu / Blog: www.leituraglobal.com

Por que Dilma por Gilberto Carvalho

Opinião

Por que Dilma


Texto publicado na coluna Tendências/Debates do jornal Folha de São Paulo, edição de 26/09/2010

Porque queremos que esta nova luz que começou a brilhar no olhar de milhões de brasileiros, como sinal de afirmação humana e cidadã, continue a brilhar sempre mais.

Porque queremos que esta autoestima que se afirma no coração e na mente de um povo por tanto tempo humilhado e excluído se consolide e afugente para sempre o triste “complexo de vira-latas” que vitimou aqueles que diziam nos representar.

Porque sabemos que a chave e a questão mais profunda do atual debate eleitoral é esta: a emergência de uma nova consciência, de um novo posicionamento de milhões de pessoas mantidas até aqui cuidadosamente “em seu lugar”, destinadas apenas a reproduzir a riqueza e a reproduzir o pensamento, usos e costumes dos senhores e dos “formadores de opinião”.

O significado do governo deste presidente, que desconcerta tanto os seguidores dos velhos manuais, vai muito além do novo posicionamento do Brasil na comunidade internacional; vai muito além da implementação deste modelo econômico que nos permitiu crescer e ao mesmo tempo distribuir renda e retirar milhões da miséria.

Vai muito além dos benefícios sociais e de tantas conquistas obtidas pelas maiorias e minorias marginalizadas, levando mais de 30 milhões de brasileiros a ingressar na classe média.

Todas elas são, por certo, muito importantes e constituem base material que assegura o apoio ao presidente e a seu governo, mesmo após anos seguidos da mais dura e absolutamente livre crítica, muitas vezes infundada, desrespeitosa e eivada de vil preconceito.

Na verdade, o significado mais profundo do exercício do governo por este “sobrevivente da tribulação”, com todos os seus limites e erros, é esta ruptura que ocorre quando a população percebe que “um de nós” mostra ser possível ultrapassar muros antes intransponíveis.

Porque esta relação com um presidente que representa as maiorias não só por ter sido eleito mas por “ser um dos nossos” produziu no nosso povo um fenômeno inédito, de identificação que teve consequências de difícil avaliação.

Porque esta identificação não ficou apenas na simples contemplação, mas na assunção efetiva de um novo papel que as grandes maiorias passaram a exercer.

Essa gente começa a ocupar seu novo lugar e a exigir a vigência de uma democracia verdadeira, em que novos direitos são conquistados e partilhados, sem guerras, mas com muita firmeza.

Esse povo começa a pisar em terrenos antes proibidos, do Palácio do Planalto às poltronas dos aviões, dos supermercados e lojas de eletrodomésticos às universidades, teatros e cinemas… Essa gente começa a pensar com cabeça própria. E aí não tem volta.

É, de fato, muito difícil para a casa grande, particularmente para seus áulicos, admitir que a senzala se moveu e que não se sabe onde isso pode parar. Isso explica a raiva destilada em tantos textos de iluminados e donos da verdade… É justamente este processo do nosso povo, com o qual sempre sonhamos, e que apenas começa, que queremos ver continuar… E Dilma, que não tem um projeto pessoal, mas que se entrega a um projeto coletivo; Dilma, que tem toda a energia deste povo com quem passou a conviver; que tem grande competência, forjada em tantos anos de trabalho, e que tem, sobretudo, um coração sensível, pode levar adiante esta reconstrução de nosso povo e do nosso país.

Para o bem da democracia plena e verdadeira. Para o bem da paz social, do respeito aos direitos de todos e para a queda de tantos muros que até aqui separam irmãos. Por isso, Dilma!

Gilberto Carvalho é chefe de gabinete da Presidência da República.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Começou a faxina , pelo voto !

Operação faxina aos demos no Congresso Nacional

O deputado federal Armando Monteiro Neto (PTB) cresceu dez pontos desde a semana passada e se isolou em segundo lugar na disputa por duas vagas de senador por Pernambuco, passando à frente do senador Marco Maciel (DEM).

Segundo pesquisa Datafolha realizada nos dias 21 e 22, Armando Monteiro passou de 32% para 42% das intenções de voto, enquanto Maciel caiu de 34% para 31%.
O líder da disputa é Humberto Costa (PT), que subiu de 47% para 52%. Raul Jungmann (PPS), em quarto, caiu de 11% para 9%.
Marcelo Crivella (PRB) e Lindberg Farias (PT) ampliaram a vantagem sobre o ex-prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM), na disputa pelas duas do Estado no Senado.
Crivella e Lindberg variaram dois pontos percentuais para cima em uma semana. Cesar Maia variou um ponto para baixo.
Para se eleger, o ex-prefeito do Rio precisa agora tirar uma vantagem de 14 pontos percentuais sobre Lindberg, o segundo colocado.
De acordo com o Datafolha, Crivella, com 42%, e Lindberg, com 40%, seriam eleitos para o Senado no Rio. Cesar Maia, que até o início do mês ficava com a segunda vaga, tem agora 26%. Jorge Picciani (PMDB) tem 20%.

Celso Jardim

Qual eleitorado elegeu e reelegeu FHC?

Mentiras e manipulações
setembro 26th, 2010 | Autor: Terror do Nordeste

O Clube Militar serviu de cenário na semana que passou para um espetáculo dos mais deprimentes e que confirmou a quantas anda a saúde do jornalismo de mercado. Lá falaram, sem o menor constrangimento, para um público constituído sobretudo de militares da Reserva, a maioria apoiadora do golpe de 64, Merval Pereira, de O Globo, Reinaldo Azevedo, da revista Veja e um tal de Rodolfo Machado Moura, diretor de Assuntos Legais da Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abert).

Nunca vi tanta mentira e manipulação da informação em um curto espaço de duas horas como o apresentado no Clube Militar. Seria impossível enumerar todas as baboseiras levantadas pelos palestrantes. Algo que depõe contra o jornalismo brasileiro.

Para se ter uma idéia, o amestrado colunista de O Globo, afirmou enfaticamente que o eleitorado brasileiro é constituído por “60% de analfabetos funcionais sem condições de discernir entre o bem e o mal”. Elitismo em mais alto grau e com base em informação sabe-se lá de que fonte. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD)-2009, o número de analfabetos funcionais no Brasil não ultrapassa os 20%. De onde então, o cascateiro Merval Pereira tirou esse percentual? Possivelmente do ódio que nutre a quem não aceita o seu ideário e de O Globo.

Merval Pereira, como querendo justificar que a ideologia de seu jornal e demais veículos da mídia de mercado não consegue convencer os brasileiros, culpou os supostos analfabetos “que Lula se aproveita para convencer”, pelo resultado das recentes pesquisas. Para Merval, o “bem” quer dizer votar em José Serra ou Marina Silva. O “mal” é o “outro lado”….Não tem coragem de dizer isso abertamente, mas está implícito.

E tem muito mais, todos os três palestrantes, sob aplausos dos militares sem comando, usaram uma linguagem de ódio e calúnias sem provas contra Lula e demais integrantes do governo. Não disfarçaram, estavam se sentido em casa, ainda mais com o apoio do Instituto Millenium, uma entidade bancada por empresários, nos moldes de outras criadas antes de 64 para respaldar o golpe.

Merval Pereira, tentando posar de moderado em comparação a Reinaldo Azevedo, que faz o gênero bobo da corte, do tipo que arranca risos com o seu radicalismo patronal, deixou claro sua posição contra a obrigatoriedade do diploma para o exercício profissional chegando a afirmar o absurdo de que se trata de “um viés corporativo” associando a exigência ao desejo do governo Lula em controlar a mídia. Não explicou exatamente o que tem a ver uma coisa com a outra.

Merval desinformou também ao lembrar erradamente que o governo Lula propôs a criação do Conselho Federal de Jornalismo, quando isso não aconteceu. A proposta foi da diretoria da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), sendo rejeitada por mais diversos setores, muitos deles sem conhecer exatamente o projeto. Merval revelou desinformação. Foi um mau jornalista.

O obscuro Azevedo considerou a oposição ao governo Lula “sem vergonha e mixuruca” confirmando que os meios de comunicação estão ocupando o espaço da oposição, mas, segundo ele, na “defesa da Constituição”. O colunista da revista Veja usou inclusive termos ofensivos ao Presidente Lula, arrancando aplausos.

Há uma visível disputa na extrema direita de qual jornalista consegue mais adeptos. Além do filósofo reprovado por uma banca da USP, Olavo de Carvalho, Reinaldo Azevedo tenta de todas as formas ocupar o espaço, disputado também por Diego Mainardi, hoje, como Olavo de Carvalho, vivendo no exterior. Arnaldo Jabor corre por fora.

Vale ainda um comentário sobre o Instituto Millenium, apoiador do seminário “A democracia ameaçada: restrições à liberdade de imprensa” realizado no Clube Militar. No fundo, bem lá no fundo, empresários que apoiaram a repressão policial na época da ditadura não se conformam com os novos tempos no Brasil e na América Latina. Decidiram então bancar o Instituto Millenium, uma entidade que ressurge do lixo da história do Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), criada para apoiar o golpe de 64.

E qual a associação que se pode fazer entre o referido instituto e os militares sem comando que assistiram o destilar de ódios dos três palestrantes? Empresários financiadores da repressão temem a abertura dos arquivos da época da ditadura que naturalmente vão mostrar oficialmente como agia o setor por detrás do pano, apoiando ações assassinas do Estado, como a Operação Bandeirantes. Como nesta história aparecem também alguns militares que agiram ilegalmente, os financiadores, aí sim verdadeiros culpados, se escondem e colocam na linha de frente alguns militares delinquentes. Nada a ver com a corporação militar.

É por aí que se pode entender a associação entre o Instituto Millenium e os militares que foram ouvir Merval Pereira, Reinaldo Azevedo e o representante da Abert, Rodolfo Machado Moura. Ou seja, vale tudo para alcançar os objetivos, até mentiras como as apresentadas pelos três palestrantes no Clube Militar.

Em tempo: O Estado de S.Paulo abriu o jogo em editorial recomendando voto em José Serra, enquanto a Folha de S. Paulo desancou sobre a candidatura Dilma Rousseff, mas dizendo que não apoia nenhum candidato. Vale então o dito popular: me engana que eu gosto. O Globo até agora nada em editorial, mas em compensação aumenta a quantidade de páginas de críticas a Lula e a Dilma Rousseff.

Mário Augusto Jakobskind

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Sinergia

Sinergia

A última pesquisa do Data Folha, comemorada sem disfarce pela mídia, desenvolveu do lado da oposição um alento, depois de quase dois meses de pancada na Dilma e no Lula por qualquer motivo e sem o resultado desejado.
Mesmo considerando a oscilação de dois pontos Dilma para baixo, um ponto Serra para cima, cinco pontos da Marina a dez dias das eleições, como acomodação natural e possivelmente dentro da margem de erro, o fato é que grande imprensa já conclui e exalta o efeito Erenice, Casa Civil e etc.
Tenho uma visão bem diferente, mesmo sem acesso as conclusões desta pesquisa e das outras já realizadas. Com base apenas no que foi divulgado, sabemos que Dilma tem o maior percentual de votos já consolidados, ou seja, 73 %. Em relação à rejeição do eleitorado, efeito que faz o eleitor na reta final amassar qualquer folheto de determinado candidato na reta final, o responsável pelo Sensus chegou a declarar: Serra com uma rejeição na base dos 40%, não tem condições de reverter o quadro com os 60 % restantes do eleitorado. A Marina tem a seguinte opinião do mesmo Instituto em 8 de setembro: A pesquisa CNT/Sensus divulgada hoje revela que a rejeição da senadora Marina Silva é maior do que a de Dilma Roussef. Surpreendente, levando-se em conta que as opiniões sobre a acreana são quase unânimes, ou seja, trata-se de uma pessoa honesta, ética, brilhante, inteligente, enfim, todos os requisitos que qualquer eleitor gostaria que os políticos tivessem.
Ora, com Dilma à frente de qualquer pesquisa, e com o menor índice de rejeição entre os três, ficará ainda mais difícil a tarefa do PIG (Partido da Imprensa Golpista) para levar esta eleição para o 2º turno.
A comparação de 2006, Lula x Alckmin não procede, pois os erros do lado de cá foram muitos, como o episódio dos aloprados, a acomodação da militância e a ausência do Lula no último debate, que além de constituir num ato de pura e explícita prepotência do Lula, proporcionou duas horas de linchamento em rede nacional na Globo. O resultado foi a falta de 1,39% ou 570 mil votos e aí o 2º turno.
No 2º turno fizemos do limão uma bela e gostosa limonada, pois proporcionou uma retumbante
vitória de Lula com 60,83 % dos votos, botando para fora o boneco da Opus Dei / Daslu.
Neste momento, nove dias das eleições, a mesma sinergia do 2º turno de 2006 já está sendo sentida.
Desta forma, por telefone pela internet, pelo celular e pelo contato pessoal, os milhões de militantes dos partidos aliados, dos sindicatos, dos movimentos sociais, das pastorais, dos residentes no exterior, do pessoal na fronteira estão em alerta, provocando a sinergia.
{ Quando se tem a associação concomitante de vários dispositivos executores de determinadas funções que contribuem para uma ação coordenada, ou seja, a somatória de esforços em prol do mesmo fim, tem-se sinergia. O efeito resultante da ação de vários agentes que atuam de forma coordenada para um objetivo comum pode ter um valor superior ao valor do conjunto desses agentes, se atuassem individualmente sem esse objetivo comum previamente estabelecido. O mesmo que dizer que "o todo supera a soma das partes"/Wikipédia}
Só o PT, com a liderança maior de Lula, tem a condição de amalgamar porções tão díspares e originais e transformá-las num bloco rígido e intransponível.
O sinal amarelo desta pesquisa joga na campanha Dilma, a seriedade que estava faltando na reta final. Tem a maravilhosa e irrepreensível campanha, temos a melhor candidata, o melhor desempenho nos debates , a melhor proposta e única entre todos os candidatos, o melhor trabalho no governo, o reconhecimento de 96 % do povo, não temos o que temer.
Dia 3 de outubro será a nossa vitória, a vitória de Dilma e a maior faxina pelo voto já realizada na política brasileira.

Salário médio do brasileiro é o maior em oito anos

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Salário médio do brasileiro é o maior em oito anos

FOTO: Roberto Stuckert Filho

Salário médio do brasileiro é o maior em oito anos

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23.09.2010

O rendimento médio do trabalhador brasileiro alcançou um recorde no mês passado: R$ 1.472,10. Esta é a maior cifra já registrada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desde o início da série história em março de 2002. Também foi anunciada a menor taxa de desemprego desde 2006: 6,7%.

A candidata à Presidência da República pela coligação Para o Brasil Seguir Mudando, Dilma Rousseff, comemorou o resultado e disse que a manutenção do ritmo de geração de empregos formais será uma de suas prioridades quando governar o país.

“Saiu agora que a taxa de desemprego fica em 6,7% em agosto, o que é um indicador muito importante, porque demonstra que o país está numa situação praticamente de pleno emprego", disse. "Essa uma das questões mais importantes do governo do presidente Lula, que é a criação de empregos formais. De 2011 a 2014, uma das questões mais focais para mim será manter esse ritmo de geração de emprego.”

Salário recorde

O valor do salário atual é 1,4% superior aos R$ 1.451,91 registrados em julho deste ano e 5,5% maior do que os R$ 1.395,21 de agosto de 2009. “Esse aumento já ocorre pelo quarto ou quinto mês consecutivo”, afirmou o gerente da pesquisa, Cimar Azeredo.

A taxa de desocupação, nas seis principais regiões metropolitanas brasileiras, medida no mês passado (6,7%), também é a menor dos últimos 8 anos. Quando comparada a agosto de 2009 (8,1%), a taxa de desocupação recuou 1,4%.

“A média de janeiro a agosto da taxa de desocupação foi estimada em 7,2%, registrando decréscimo de 1,3 ponto percentual em comparação com idêntico período do ano passado (8,5%)”, informou o IBGE.

Três notícias, cada uma melhor do que a outra

Três notícias, cada uma melhor do que a outra Taxa de desemprego é a menor dos últimos 9 anos...

ImageO IBGE divulgou hoje sua pesquisa de desemprego relativa a agosto pp. com a qual mostra que a taxa ficou em 6,7%, a menor considerando todos os meses, desde março de 2002. No mês de julho deste ano este índice havia ficado em 6,9% e em agosto de 2009 em 8,1%.

Naturais, eu acho, e são taxas auto-explicativas da política econômica e de emprego do governo Lula que, ao final, terá gerado 14 milhões de empregos em 8 anos contra 800 mil criados nos 8 anos da administração FHC/Serra (veja nota abaixo).

Também o salário médio mensal dos trabalhadores em agosto levantado pelo IBGE teve uma alta de 1,4% no país, ficando em R$ 1.472,10 em comparação com o mês de julho pp. Já em relação a agosto do ano passado, a renda média do brasileiro subiu 5,5%.

É claro que no cômputo geral, há aí o peso dos aumentos do salário mínimo com reajustes reais e acima da inflação, concedidos pela administração Lula em contraposição à política de arrocho salarial sustentada nos 8 anos do tucanato de FHC/Serra.

É este quadro que leva o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, a prever que o país criará mais de 3 milhões de empregos formais (com carteira assinada e todos os direitos sociais e trabalhistas) já no próximo ano. E ele prevê também que o país atingirá a marca de 10 milhões de novas vagas ao longo dos quatro anos do próximo governo, superando até mesmo este desempenho recorde dos últimos anos.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Para discutir a liberdade de imprensa

Rigotto quer fechar um jornal ? A odisséia de um jornalista gaúcho

Quantas outras vozes Rigotto gostaria de calar ?

O Conversa Afiada reproduz artigo de Luiz Cláudio Cunha, publicado no Observatório da Imprensa: Edição 605 de 31/8/2010
www.observatoriodaimprensa.com.br:


JORNAL JÁ
Como calar e intimidar a imprensa

Luiz Cláudio Cunha

“Quando o mal é mais audacioso, o bem precisa ser mais corajoso.” (Pierre Chesnelong, 1820-1894, político francês

Agosto, mês de cachorro louco, marcou o décimo ano da mais longa e infame ação na Justiça brasileira contra a liberdade de expressão.

É movida pela família do ex-governador Germano Rigotto, 60 anos, agora candidato ao Senado pelo PMDB do Rio Grande do Sul e supostamente alheio ao processo aberto em 2001 por sua mãe, dona Julieta, hoje com 89 anos. A família atacou em duas frentes, indignada com uma reportagem de quatro páginas, publicada em maio daquele ano em um pequeno mensário (tiragem de 5 mil exemplares) de Porto Alegre, o JÁ, que jogava luzes sobre a maior fraude da história gaúcha e repercutia o envolvimento de Lindomar Rigotto, filho de Julieta e irmão de Germano.

Uma ação, cível, cobrava indenização da editora por dano moral. A outra, por injúria, calúnia e difamação, punia o editor do JÁ e autor da reportagem, Elmar Bones da Costa, hoje com 66 anos. O jornalista foi absolvido em todas as instâncias, apesar dos recursos da família Rigotto, e o processo pelo Código Penal foi arquivado. Mas, em 2003, Bones acabou sendo condenado na área cível ao pagamento de uma indenização de R$ 17 mil. Em agosto de 2005 a Justiça determinou a penhora dos bens da empresa. O JÁ ofereceu o seu acervo de livros, cerca de 15 mil exemplares, mas o juiz não aceitou. Em agosto de 2009, sempre agosto, quando a pena ascendera a quase R$ 55 mil, a Justiça nomeou um perito para bloquear 20% da receita bruta de um jornal comunitário quase moribundo, sem anúncios e reduzido a uma redação virtual que um dia teve 22 jornalistas e hoje se resume a dois – Bones e Patrícia Marini, sua companheira. Cinco meses depois, o perito foi embora com os bolsos va zios, penalizado diante da flagrante indigência financeira da editora.

Até que, na semana passada, no maldito agosto de 2010, a família de Germano Rigotto saboreou mais um giro no inacreditável garrote judicial que asfixia o jornal e seu editor desde o início do Século 21: o juiz Roberto Carvalho Fraga, da 15ª Vara Cível de Porto Alegre, autorizou o bloqueio online das contas bancárias pessoais de Elmar Bones e seu sócio minoritário, o também jornalista Kenny Braga. Assim, depois do cerco judicial que está matando a editora, a família Rigotto assume o risco deliberado de submeter dois dos jornalistas mais conhecidos do Rio Grande ao vexame da inanição, privados dos recursos essenciais à subsistência de qualquer ser humano.

O personagem de Scorsese

Afinal, qual o odioso crime praticado pelo JÁ e por Elmar Bones que possa justificar tanta ira, tanta vindita, ao longo de tanto tempo, pelo bilioso clã Rigotto? O pecado do jornal e seu editor só pode ter sido o jornalismo de primeira qualidade, ousado e corajoso, que lhe conferiu em 2001 os prêmios Esso Regional e ARI (Associação Riograndense de Imprensa), os principais da categoria no sul do país, pela reportagem “Caso Rigotto – Um golpe de US$ 65 milhões e duas mortes não esclarecidas”.

A primeira morte era a de uma garota de programa, Andréa Viviane Catarina, 24 anos, que despencou nua do 14º andar de um prédio na Rua Duque de Caxias, no centro da capital gaúcha, no fim da tarde de 29 de setembro de 1998. O dono do apartamento, Lindomar Rigotto, estava lá na hora da queda. Ele contou à polícia que a garota tinha bebido uísque e ingerido cocaína. Nenhum vestígio de álcool ou droga foi confirmado nos exames de sangue coletados pela criminalística. O laudo da necropsia diz que a vítima mostrava três lesões – duas nas costas, uma no rosto – que não tinham relação com a queda. Ela estava ferida antes de cair, o que indicava que houve luta no apartamento. Um teste do Instituto de Criminalística indicou que o corpo de Andréa recebeu um impulso no início da queda.

No relatório que fez após ouvir Rigotto, o delegado Cláudio Barbedo, um dos mais experientes da polícia gaúcha, achou relevante anotar: “[Lindomar] depôs sorrindo, senhor de si, falando como se estivesse proferindo uma conferência”. Os repórteres que o viram chegar para depor, no dia 12 de novembro, disseram que ele parecia “um personagem de Martin Scorsese”, famoso pelos filmes sobre a Máfia: Lindomar usava óculos escuros, terno azul marinho, calça com bainha italiana, camisa azul, gravata colorida e gel nos cabelos compridos. O figurino não impressionou o delegado, que incluiu na denúncia o depoimento de uma testemunha informando que Lindomar era conhecido como “usuário e traficante de cocaína” na noite que ele frequentava – por prazer e ofício – como dono do Ibiza Club, uma rede de quatro casas noturnas que agitavam as madrugadas no litoral do Rio Grande e Santa Catarina. Em dezembro, o delegado Barbedo concluiu o inquérito, denunciando Lindomar Rigotto por homicídio cu lposo e omissão de socorro.

Lindomar só não sentou no banco dos réus porque teve também uma morte violenta, 142 dias após a de Andréa. Na manhã de 17 de fevereiro, ele fechava o balanço da última noite do Carnaval de 1999, que levou sete mil foliões ao salão do Ibiza da praia de Atlântida, a casa mais badalada do litoral gaúcho. Cinco homens armados irromperam no local e roubaram a féria da noitada. Lindomar saiu em perseguição ao carro dos assaltantes. Emparelhou com eles na praia vizinha, Xangrilá, a três quilômetros do Ibiza. Um assaltante botou a arma para fora e disparou uma única vez. Lindomar morreu a caminho do hospital, com um tiro acima do olho direito. Tinha 47 anos.

O choque de Dilma

A trepidante carreira de Lindomar Rigotto sofrera um forte solavanco dez anos antes, com seu envolvimento na maior fraude da história gaúcha: a licitação manipulada de 11 subestações da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), uma tungada em valores corrigidos de aproximadamente R$ 840 milhões – 21 vezes maiores do que o escândalo do Detran que submeteu a governadora Yeda Crusius a um pedido de impeachment, quase três vezes mais do que os desvios atribuídos ao clã Maluf em São Paulo, quinze vezes maior do que o total contabilizado pelo Supremo Tribunal Federal para denunciar a “quadrilha dos 40″ do mensalão do governo Lula.

Afundada em dívidas, a estatal gaúcha de energia tinha dificuldades para captar os US$ 141 milhões necessários para as subestações que gerariam 500 mil quilowatts para 51 pequenas e médias cidades do Rio Grande. Preocupado com a situação pré-falimentar da empresa, o então governador Pedro Simon (PMDB) tinha exigido austeridade total.

Até que, em março de 1987, inventou-se o cargo de “assistente da diretoria financeira” para acomodar Lindomar, irmão do líder do Governo Simon na Assembléia, o deputado caxiense Germano Rigotto. “Era um pleito político da base do PMDB em Caxias do Sul”, confessaria depois o secretário de Minas e Energia, Alcides Saldanha. Mais explícito, um assessor de Saldanha reforçou a paternidade ao JÁ: “Houve resistência ao seu nome [Lindomar], mas o irmão [Germano] exigiu”.

Com a chegada de Lindomar, as negociações com os dois consórcios das obras, que se arrastavam há meses, foram agilizadas em apenas oito dias. Logo após a assinatura dos contratos, os pagamentos foram antecipados, contrariando as normas estritas baixadas por Simon para evitar curtos-circuitos contábeis na CEEE. Três meses depois, a empresa foi obrigada a um empréstimo de US$ 50 milhões do Banco do Brasil, captado pela agência de Nassau, no paraíso fiscal das Bahamas. Uma apuração da área técnica da CEEE detectou graves problemas: documentos adulterados, folhas numeradas a lápis, licitação sem laudo comprovando a necessidade da obra. A sindicância da estatal propôs a revisão dos contratos, mas nada foi feito. A recomendação chegou ao governo seguinte, o de Alceu Collares (PDT), e à sucessora de Saldanha na pasta das Minas e Energia, uma economista chamada Dilma Rousseff. “Eu nunca tinha visto nada igual”, diria ela, chocada com o que leu.

Dilma só não botou o dedo na tomada porque o PDT de Collares precisava dos votos do PMDB de Rigotto para ter maioria na Assembléia. Para evitar o risco de queimaduras, Dilma, às vésperas de deixar a secretaria, em dezembro de 1994, teve o cuidado de mandar aquela papelada de alta voltagem para a Contadoria e Auditoria Geral do Estado (CAGE), que começou a rastrear a CEEE com auditores do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e do Ministério Público. Dependendo do câmbio, o tamanho da fraude constatada era sempre eletrizante: US$ 65 milhões, segundo o CAGE, ou R$ 78,9 milhões, de acordo com o Ministério Público.

A denúncia energizou a criação de uma CPI na Assembléia, proposta pelo deputado Vieira da Cunha, líder da bancada do PDT em 2008 na Câmara Federal. Vinte e cinco auditores quebraram sigilos bancários e fiscais. Lindomar Rigotto foi apontado em 13 depoimentos como figura central do esquema, acusação reforçada pelo chefe dele na CEEE, o diretor-financeiro Silvino Marcon. A CPI constatou que os vencedores da licitação, gerenciados por Rigotto, apresentavam propostas “em combinação e, talvez, até ao mesmo tempo e pelas mesmas pessoas”. O relatório final lembrava: “É forçoso concluir pela existência de conluio entre as empresas interessadas que, se organizando através de consórcios, acertaram a divisão das obras entre si, fraudando dessa forma a licitação”. O JÁ foi mais didático: “Apurados os vencedores, constatou-se que o consórcio Sulino venceu todas as subestações do grupo B2 e nenhuma do B1. Em compensação, o Conesul venceu todas as obras do B1 e nenhuma do B1. A di ferença entre as propostas dos dois consórcios é de apenas 1,4%”.

O aval de Dulce

A quebra do sigilo bancário de Lindomar revelou um crédito em sua conta de R$ 1,17 milhão, de fonte não esclarecida. O relatório final da CPI caiu na mão de um parlamentar do PT, o também caxiense Pepe Vargas, primo de Lindomar e Germano Vargas Rigotto. Apesar do parentesco, o primo Pepe, hoje deputado federal, foi inclemente na sua acusação final: “De tudo o que se apurou, tem-se como comprovada a prática de corrupção passiva e enriquecimento ilícito de Lindomar Vargas Rigotto”. Além dele, a CPI indiciou outras 12 pessoas e 11 empresas, botando no mesmo balaio nomes vistosos como Camargo Corrêa, Alstom, Brown Boveri, Coemsa, Sultepa e Lorenzetti. No final de 1996, a Assembléia remeteu as 260 caixas de papelão da CPI ao Ministério Público, de onde nasceu o processo n° 011960058232 da 2ª Vara Cível da Fazenda Pública em Porto Alegre. Os autos somam 30 volumes e 80 anexos e mofam ainda na primeira instância do Judiciário, protegidos por um inacreditável “segredo de justiça”. Em fevereiro próximo, o Rio Grande do Sul poderá comemorar os 15 anos de completo sigilo sobre a maior fraude de sua história.

Esta incrível saga de resistência e agonia do JÁ e de Bones provocada pela família Rigotto foi contada, em primeira mão, neste Observatório, em 24 de novembro de 2009 (“O jornal que ousou contar a verdade”). No dia seguinte, uma quarta-feira, Rigotto telefonou de Porto Alegre para reclamar ao autor que assina aquele e este texto.

– Isso ficou muito ruim pra mim, Luiz Cláudio, pois o Observatório é um formador de opinião, muito lido e respeitado. Ficou parecendo que eu estou querendo fechar um jornal. Eu não tenho nada a ver com isso. O processo é coisa da minha mãe. Foi a minha irmã, Dulce, que me disse que a reportagem era muito pesada, irresponsável. Eu nem conheço este jornal, este jornalista…

– Rigotto, a dona Julieta não é candidata a nada. O candidato és tu. A reportagem do JÁ tem implicações políticas que batem em ti, não na tua mãe. E acho muito estranho que, passados oito anos, tu ainda não tiveste a curiosidade de ler a reportagem que tanta aflição provoca na dona Julieta. Se tu estás te baseando na avaliação da Dulce, devo te alertar que ela não entende xongas de jornalismo, Rigotto! Esta matéria do Bones é precisa, calcada em fatos, relatórios, documentos e conclusões da CPI e do Ministério Público que incriminam o teu irmão. Não tem opinião, só informação. O teu processo…

– Não é meu, não é meu… É da minha mãe…

– Isso é o que diz também o Sarney, Rigotto, quando perguntam a ele sobre a censura que cala O Estado de S.Paulo. “Isso é coisa do meu filho, o Fernando”…

– Eu fico muito ofendido com esta comparação! Eu não sou o Sarney, não sou!…

– Lamento, mas estás usando a mesma desculpa do Sarney, Rigotto.

– Luiz Cláudio, como resolver isso tudo com o Bones? A gente pode parcelar a dívida e aí…

– Rigotto, tu não estás entendendo nada. O Bones não quer parcelar, não quer pagar um único centavo. Isso seria uma confissão de culpa, e ele não fez nada errado. Pelo contrário. Produziu uma reportagem impecável, que ganhou os maiores prêmios. Eu assinaria essa matéria, com o maior orgulho. Sai dessa, Rigotto!

Coincidência ou não, um dia depois do telefonema, na quinta-feira, 26, Rigotto convocou uma inesperada coletiva de imprensa em Porto Alegre para anunciar sua retirada como possível candidato ao Palácio Piratini, deixando o espaço livre para o prefeito José Fogaça.

O modelo de Roosevelt

Naquela mesma quarta-feira, 25 de novembro, a emenda ficou pior que o soneto. O advogado dos Rigotto, Elói José Thomas Filho, botou no papel aquela mesma proposta indecente que ouvi do próprio Germano Rigotto, confirmando por escrito ao editor a idéia de parcelar a indenização devida de R$ 55 mil em 100 (cem) módicas prestações. Diante da altiva recusa de Bones, o advogado pareceu incorporar a doutrina do big stick de Theodore Ted Roosevelt (1901-1909), popularmente conhecida como “lei do tacape” e inspirada pela frase favorita do belicoso presidente estadunidense: “Fale com suavidade e tenha na mão um grande porrete”. O suave advogado Thomas Filho escreveu então para Bones: “… em nova demonstração de boa-fé, formalizamos nossa intenção em compor amigavelmente o litígio acima, bem como a possibilidade [sic] de nos abstermos de ajuizar novas demandas judiciais…”.

Certamente para tranquilizar o filho candidato, o advogado reafirmava na carta a Bones que a ação contra o jornal era movida “unicamente” por dona Julieta, que buscava na justiça o ressarcimento pelo “abalo moral” provocado pela reportagem do JÁ, que misturava “irresponsavelmente três fatos diversos que envolveram a figura do falecido”. Ou seja, dona Julieta Rigotto, que entende de jornalismo tanto quanto os filhos Dulce e Germano, não consegue perceber a obviedade linear de uma pauta irresistível para qualquer repórter inteligente: o objetivo relato jornalístico sobre um homem público – Lindomar – morto num assalto pouco antes de ser julgado pelo homicídio culposo de uma prostituta e pouco depois de ser denunciado no relatório de uma CPI, redigido pelo primo deputado, pela prática comprovada de “corrupção passiva e enriquecimento ilícito” na maior fraude já cometida contra os cofres públicos do Rio Grande do Sul. Mas, na lógica simplória da mãe dos Rigotto, uma coi sa não tem nada a ver com a outra…

Para garantir o tom “amigável” entre as partes, o advogado de dona Julieta propôs a Bones os termos de uma retratação pública, suave como um porrete, enfatizando três pontos:

1. “Dona Julieta nunca teve a intenção de fechar o jornal”;

2. “a ação não é promovida pela família Rigotto, mas apenas por dona Julieta”;

3. “retirar o jornal de circulação, para estancar a propagação do dano”.

Tudo isso, incluindo o ameno confisco de um jornal das bancas em pleno regime democrático, segundo o tortuoso raciocínio do advogado, serviria para “tutelar a honra e a imagem de seu falecido filho”. Neste longo, patético episódio, que intercala demonstrações de coragem e altivez com cenas de pura violência, fina hipocrisia ou corrupção explícita, ficou pelo caminho o contraste de atitudes que elevam ou rebaixam. Diante da primeira ação criminal de dona Julieta na Justiça, o promotor Ubaldo Alexandre Licks Flores ensinou, em novembro de 2002:

“[não houve] qualquer intenção de ofensa à honra do falecido Lindomar Rigotto. Por outro lado, é indiscutível que os três temas [a CEEE e as duas mortes] estavam e ainda estão impregnados de interesse público”.

O orgulho de Enedina

Apesar da lucidez do promotor, o caso tonitruante da CEEE não ecoa nos ouvidos surdos da imprensa gaúcha, conhecida no país pela acuidade de profissionais talentosos, criativos, corajosos. Nenhum grande jornal do sul – Zero Hora, Correio do Povo, Jornal do Comércio, O Sul –, nenhum colunista de peso, nenhum editorialista, nenhum blog de prestígio perdeu tempo ou tinta com esse tema, que nem de longe parece um assunto velho, batido ou nostálgico. O que lhe dá notória atualidade não é o ancestral confronto entre a liberdade de expressão e a prepotência envergonhada dos eventuais poderosos de plantão, mas a reaparição de seus principais personagens no turbilhão da corrida eleitoral de 2010.

Germano Rigotto, o líder governista que emplacou o filho de dona Julieta na máquina estatal, é hoje o candidato do maior partido gaúcho ao Senado Federal. A ex-secretária Dilma Rousseff, que ficou estarrecida com o que leu sobre as fraudes de Lindomar Rigotto na CEEE, é apontada pelas pesquisas como a futura presidente do Brasil, numa vitória classificada pelo renomado jornal inglês Financial Times como “retumbante”. Tarso Genro, o ex-comandante supremo da Polícia Federal, que executou as maiores operações contra corruptos da máquina pública, lidera a corrida ao governo gaúcho e, certamente, tem os instrumentos para saber hoje o que Dilma sabe desde 1990. O primo Pepe Vargas, que mostrou isenção e coragem no relatório da CPI sobre a maior fraude da história do Rio Grande, é candidato à reeleição, assim como o deputado federal que inventou a CPI, Vieira da Cunha.

É a lógica perversa do interesse eleitoral que explica o desinteresse até dos principais adversários de Rigotto na disputa pelo Senado. O candidato do PMDB está emparedado entre a líder na pesquisa da Datafolha, a jornalista Ana Amélia Lemos (PP) – que subiu de 33% em julho para 44% na semana passada – e o candidato à reeleição pelo PT, senador Paulo Paim – que cresceu de 35% no início do mês para 38% agora. Rigotto caiu de 43% para 42% no espaço de três semanas. Na Região Metropolitana de Porto Alegre, Ana Amélia bate Rigotto por 47% a 39%. Seus oponentes desprezam o potencial explosivo do “Caso CEEE” porque todos sonham em ganhar o segundo voto dos outros candidatos, o que justifica a calculada misericórdia e o piedoso silêncio que modera a estratégia de adversários historicamente tão diferentes e hostis como são, no Rio Grande do Sul, o PT, o PMDB e o PP.

O que é recato na política se transforma em omissão nas entidades que, ao longo do tempo, marcaram suas vidas na luta pela democracia e pela liberdade de expressão e no repúdio veemente à ditadura e à censura. Siglas notáveis como OAB, ABI, SIP, Fenaj e Abraji brilham pelo silêncio, pela omissão, pelo desinteresse ou pelo trato burocrático do caso JÁ vs. Rigotto, que resume uma questão crucial na vida de todas elas e de todos nós: a livre opinião e o combate à prepotência dos grandes sobre os pequenos, apanágio de toda democracia que se respeita.

A OAB e seus advogados, no Rio Grande ou no Brasil, que impulsionaram a queda de um presidente envolvido em denúncias de corrupção, não se sensibilizam pela sorte de um pequeno jornal e seu bravo editor, punidos por seu desassombrado jornalismo e mortalmente asfixiados pelo cerco econômico surpreendentemente avalizado pela Justiça, que deveria proteger os fracos contra os fortes – e não o contrário.

A inerte Associação Brasileira de Imprensa jamais se pronunciou sobre as agruras de Bones e seu jornal. Só em setembro de 2009, um mês após a denúncia sobre o bloqueio judicial das receitas do JÁ, é que a Fenaj e o Sindicato dos Jornalistas do RS trataram de fazer alguma coisa: uma nota gelada, descartável, manifestando solidariedade à vítima e lamentando a decisão “equivocada” da Justiça. A Associação Riograndense de Imprensa, que em 2001 conferiu à reportagem contestada do JÁ o seu maior prêmio jornalístico, só quebrou o seu constrangedor silêncio ao ser cobrada publicamente por este Observatório, em novembro passado. Todos os membros da brava Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo têm a obrigação de conhecer a biografia de Elmar Bones, que nos anos de chumbo pilotou o CooJornal, um mensário da extinta Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre (1976-1983) que virou referência da imprensa nanica que resistia à ditadura.

Bones chegou a ser preso, em 1980, pela publicação de um relatório secreto em que o Exército fazia uma autocrítica sobre as bobagens cometidas na repressão à guerrilha do Araguaia. Algo mais perigoso, na época, do que falar na roubalheira operada pelo filho de dona Julieta na CEEE… No site da Abraji, a entidade emite sua opinião em quatro notas, nos últimos dois anos. Critica o sigilo eterno de documentos públicos, defende o seguro de vida para repórteres em zona de risco, repudia um tapa na cara que uma repórter de TV do Centro-Oeste levou de um vereador e, enfim, faz uma vigorosa, firme, veemente manifestação a favor da liberdade de expressão… no México. Ao pobre JÁ e seu editor, lá no sul do Brasil, nenhuma linha, nada.

A poderosa Sociedade Interamericana de Imprensa, que reúne os maiores veículos das três Américas, patrocina uma influente Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação, hoje sob a presidência de um jornal do Texas, o San Antonio Express News. Entre os 26 vice-presidentes regionais, existem dois brasileiros: Sidnei Basile, do Grupo Abril, e Maria Judith de Brito, da Folha de S.Paulo. Envolvidos com os graves problemas da Paulicéia, eles provavelmente não podem atentar para o drama vivido por um pequeno jornal de Porto Alegre. Mas, existem outros 17 membros na Comissão de Liberdade da SIP, e dois deles bem próximos do drama de Bones: os gaúchos Mário Gusmão e Gustavo Ick, do jornal NH, de Novo Hamburgo, cidade a 40 km da capital gaúcha. Nem essa proximidade livra as aflições do JÁ e seu editor do completo desdém da SIP.

Este monumental cone de silêncio e omissão, que atravessa fronteiras e biografias, continua desafiando a sensibilidade e a competência de jornais e jornalistas, que deveriam se perguntar o que existe por trás do amaldiçoado caso da CEEE, que afugenta em vez de atrair a imprensa. A maior fraude da história do Rio Grande, mais do que uma bomba, é uma pauta em aberto, origem talvez da irritação dos Rigotto contra o editor e o jornal que ousaram jogar luz nessa história mal contada. Os volumes empoeirados deste megaescândalo continuam intocados nas estantes da Justiça em Porto Alegre, protegido por um sigilo inexplicável que só pode ser útil a quem mente e a quem rouba, não a quem luta pela verdade e a quem é ético na política, como fazem os bons repórteres e como devem ser os bons políticos.

O bom jornalismo não é aquele que produz boas respostas, mas aquele que faz as boas perguntas – e as perguntas são ainda melhores quando incomodam, quando importunam, quando constrangem, quando afligem os consolados e quando consolam os aflitos.

A emoção é a última fronteira de quem perde os limites da razão. Elmar Bones tinha ganhado todas as instâncias do processo criminal, quando um juiz do Tribunal de Justiça, na falta de melhores argumentos, preferiu se assentar nos autos impalpáveis do sentimento para decidir em favor da mãe de Germano Rigotto:

“Não há como afastar a responsabilidade da ré pelas matérias veiculadas, que atingiram negativamente a memória do falecido, o que certamente causou tristeza, angústia e sofrimento à mãe do mesmo (…)”.

Dona Julieta Rigotto, viva e forte aos 89 anos, ainda sofre com a honra e a imagem maculadas de seu falecido filho, Lindomar.

Dona Enedina Bones da Costa tinha 79 anos quando morreu, em 2001, poupada assim da tristeza, angústia e sofrimento que sentiria ao ver o drama vivido agora por seu filho, Elmar. Mas ela teria, com certeza, um enorme, um insuperável orgulho pelo filho honrado e corajoso que trouxe ao mundo e ao jornalismo.